Como o serial RS485/RS232 se comunica com o protocolo MQTT via gateway

Como o serial RS485/RS232 se comunica com o protocolo MQTT via gateway

O cenário industrial contemporâneo é marcado por um dilema: a coexistência de ativos legados, robustos e plenamente funcionais, instalados há décadas, com a necessidade urgente de adoção dos princípios da automação inteligente. O desafio é otimizar a eficiência e a competitividade, o que exige a visibilidade das operações em tempo real.

A substituição completa desses ativos antigos por máquinas modernas conectadas é, na maioria dos casos, impraticável devido aos custos de capital que podem chegar a milhões de reais e ao tempo de inatividade (downtime) prolongado necessário para a instalação. Assim, a modernização, conhecida como retrofit industrial, emerge como a alternativa mais viável e sustentável, já que permite estender a vida útil dos equipamentos apenas atualizando os controles e a conectividade.

Para atender a essa necessidade, o gateway IoT TLE da Altus pode ser implementado como uma “ponte digital” para a transformação industrial, conectando a comunicação machine-to-machine (M2M) dos equipamentos já existentes ao universo IIoT.

O foco deste artigo é detalhar como o TLE realiza a conversão de protocolo de forma inteligente e segura. Esta análise se baseia na tríade de comunicação que define o retrofit de sistemas legados: a camada física (serial RS-485/232), o protocolo de aplicação de campo (Modbus) e o padrão mais moderno e escalável (MQTT). Acompanhe essa análise nos próximos parágrafos.

O escopo da ponte digital

Os protocolos seriais são a base física da automação há décadas, conhecidos por sua simplicidade e estabilidade em ambientes adversos. O nosso gateway TLE oferece suporte tanto ao RS-232 quanto ao RS-485, cobrindo diferentes necessidades de distância e topologia no chão de fábrica.  

O RS-232 é um padrão de comunicação serial de dados, assíncrona e full duplex, o que significa que pode transmitir e receber dados simultaneamente. Historicamente, era comum em aplicações de curta distância, como a conexão entre um computador (DTE) e um modem (DCE).  

Contudo, o RS-232 possui limitações críticas em ambientes industriais modernos, especialmente devido à sua transmissão desequilibrada, que o torna altamente suscetível a ruídos eletromagnéticos, e a uma restrição de distância para a qual foi projetado. Apesar dessas limitações, o suporte físico ao RS-232 no TLE ajuda a garantir a compatibilidade com instrumentos de controle legados ou dispositivos que se encontram próximos ao gateway, como balanças ou medidores.  

Já o RS-485 é o padrão que permite a coleta de dados em grandes instalações. Diferente do 232, ele foi projetado para comunicações robustas e confiáveis em ambientes ruidosos. Uma de suas maiores vantagens é o alcance, suportando cabos de até 1.200 metros, ideal para cobrir extensas plantas industriais. Além disso, mantém velocidades de transmissão entre 9,6 Kbps e 115,2 Kbps.  

O diferencial do RS-485 em uma arquitetura de retrofit é sua capacidade de comunicação multiponto. Isso permite conectar múltiplos dispositivos (Escravos) em um único par de fios.

Modbus Serial: a linguagem universal da automação

O Modbus é um protocolo de aplicação universalmente reconhecido na automação, sendo a “linguagem” que trafega sobre a camada física RS-232 ou RS-485. É amplamente utilizado em CLPs, medidores, IHMs e outros equipamentos industriais.  

Existem duas variantes principais do Modbus serial:

  • Modbus RTU: essa variante é a mais eficiente, pois utiliza codificação binária compacta e o sistema de checagem de erros (CRC) para assegurar a integridade dos dados. Por sua alta eficiência, é a forma mais recomendada para a maioria das aplicações.

  • Modbus ASCII: utiliza caracteres ASCII para representação dos dados. Embora seja mais legível para os operadores, é menos eficiente, requerendo o dobro de bytes para transmitir o mesmo conteúdo. Sua aplicação é restrita a dispositivos que não suportam o formato RTU.  

A principal limitação do Modbus está em seu modelo de comunicação baseado em polling (mestre-escravo). Nesse formato, o equipamento mestre precisa consultar periodicamente o escravo para obter atualizações de status ou valores de registradores. Esse processo gera tráfego repetitivo, consome banda e adiciona latência, contrastando diretamente com a eficiência e o fluxo orientado a eventos dos protocolos IIoT.

MQTT: conectividade otimizada e escalável para sistemas IIoT

O MQTT (Message Queuing Telemetry Transport) foi desenvolvido para resolver os desafios de comunicação em ambientes restritos de largura de banda e alta latência, como é o caso das redes celulares (4G/LTE).

A principal diferença entre o MQTT e os protocolos seriais reside na arquitetura de comunicação. Enquanto o Modbus é mestre-escravo e o TCP é cliente-servidor, o MQTT adota o modelo Publish/Subscribe (Publicar/Assinar).

Os componentes principais dessa arquitetura são:

  • Broker (Servidor): é o elemento central responsável por receber todas as mensagens, filtrá-las por tópicos (assuntos) e distribuí-las. O broker permite o desengajamento temporal e geográfico entre os equipamentos participantes.

  • Publisher (Publicador): envia a carga útil (payload) com o dado traduzido para um Tópico específico (por exemplo: fabrica/máquina/status/vibração).

  • Subscriber (Assinante): aplicações de destino, como plataformas de Nuvem (AWS, Google Cloud) ou sistemas SCADA, que se inscrevem nos Tópicos de interesse para receber apenas os dados relevantes.  

A vantagem desse modelo é a escalabilidade e a eficiência: o Publicador não precisa saber quem ou quantos Assinantes existem, e vice-versa. Os dados são enviados apenas quando ocorrem (modelo orientado a eventos), eliminando a necessidade de polling constante na rede.

Mas,o fator mais crítico para a aplicação do MQTT em telemetria é sua leveza. O protocolo foi projetado para operar com baixa capacidade de processamento e internet limitada. Um cabeçalho mínimo de apenas dois bytes é necessário para o controle da mensagem. Para dados industriais, a garantia de entrega é imperativa.

O MQTT aborda essa necessidade com a funcionalidade de Qualidade de Serviço (QoS), que é suportada pelo gateway TLE:

  • QoS 0 (No Máximo uma Vez): a mensagem é enviada sem confirmação de recebimento. Rápido, mas não há garantia de entrega.

  • – QoS 1 (Pelo Menos uma Vez): a mensagem é entregue, no mínimo, uma vez, utilizando um mecanismo de confirmação (ACK). Ideal para dados de processos importantes onde a duplicidade ocasional é aceitável.  

  • QoS 2 (Exatamente uma Vez): garante que a mensagem seja entregue de forma única, por meio de um handshake de duas etapas. Essencial para comandos críticos, como comandos de controle ou alarmes de segurança, nos quais a perda ou duplicação é intolerável.  

A capacidade de selecionar o QoS apropriado permite que o TLE seja configurado para gerenciar a criticidade de cada dado separadamente: dados de temperatura de rotina podem usar QoS 0 ou 1, enquanto comandos remotos de emergência devem usar QoS 2 para garantir a segurança operacional.

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O TLE como central de inteligência da borda

O TLE é um gateway IoT que concentra múltiplas funções, indo além da simples tradução de protocolos para oferecer resiliência, conectividade robusta e segurança integrada. Projetado para ambientes rigorosos, o TLE possui uma caixa de liga metálica rígida em conformidade com o IP30 protection level, garantindo durabilidade contra impactos e vibrações.

As interfaces físicas são a chave para um retrofit bem-sucedido:  

  • Serial: 1x RS-232/RS-485, essencial para a coleta de dados legados.

  • Ethernet: 1x 10/100Mbps para Modbus TCP local e conexão LAN.

  • – I/O digital: 1 entrada digital (ED, Lógica 1: 5~30Vdc) e 1 saída digital (SD, Relé 24Vdc/300mA), que suportam a criação de regras de acionamento de alarmes ou a leitura direta de sensores. 

  • Armazenamento: Slot MicroSD, fundamental para data logging. 

  • Dual Micro SIM: permite a configuração de failover. Se o gateway detectar a queda da conexão da SIM-A (por exemplo, falha da operadora), ele automaticamente realiza a troca dinâmica antidesconexão para a SIM-B. Esse mecanismo de redundância garante que a conectividade WAN mantenha a alta disponibilidade.

  • Módulo LTE Cat 4 (3G/4G/LTE): a principal interface WAN que suporta conectividade local via LAN-WIFI 802.11n 1T1R (2.4GHz).  

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Convertendo conexões seriais para IoT

A principal função do TLE é a tradução de protocolos, transformando os dados estruturados do Modbus no formato leve e escalável do MQTT.

No cenário de conversão mais comum, Modbus RTU → Modbus TCP/MQTT, o TLE inicia a verificação. Ele atua como Mestre Modbus, lendo os dados legados do Escravo Modbus RTU conectado via RS-485. O TLE, então, mapeia esses valores em unidades de dados leves. Por exemplo, um registro Modbus que contém a temperatura de um motor é coletado e traduzido internamente: o valor numérico é encapsulado em um payload (pode ser formato JSON ou string pura) e estruturado logicamente em um Tópico MQTT, como, por exemplo, clientes/altus_fabrica/motor_x/temperatura.

Mas, é importante lembrar que em ambientes de telemetria que dependem da rede celular, a perda de conexão, mesmo que breve, é uma ameaça constante que pode criar lacunas nos dados e comprometer análises de manutenção preditiva.

O TLE soluciona essa vulnerabilidade com funções avançadas de data logging que utilizam o armazenamento local (cartão MicroSD). O recurso de mais importante para isso é o modo off-line Proxy.

Quando o TLE detecta que perdeu a conexão com o MQTT (via WAN), ele assume a função de Mestre Modbus, continuando a verificar (agir como Proxy) os Escravos seriais. Os dados coletados são imediatamente armazenados localmente, em um mecanismo de store-and-forward. Esta funcionalidade garante que nenhum dado de processo será perdido durante a interrupção da conectividade WAN, minimizando drasticamente o risco operacional associado à dependência da rede celular. Assim que o TLE restabelece a conexão (graças ao Dual SIM), ele reenvia os dados armazenados para o MQTT, preenchendo as lacunas no histórico.

O TLE suporta o Modo Sniffer, que monitora e registra o tráfego Modbus para fins de diagnóstico. E a versatilidade do TLE ainda é reforçada pelo seu suporte a múltiplos protocolos de comunicação, indo além do Modbus e MQTT.

O gateway também suporta o modo Virtual COM (RFC2217, TCP Client/Server/UDP). O Virtual COM permite que sistemas de engenharia e aplicações de PC legadas, que foram originalmente projetados para se conectar a um dispositivo serial através de uma porta COM física local, continuem funcionando. O TLE mapeia o dispositivo serial remoto para uma porta COM virtual no PC do técnico via rede IP. Essa funcionalidade elimina a necessidade de reescrever softwares de engenharia antigos, garantindo a interoperabilidade total e facilitando a manutenção.  

Otimização de ativos e manutenção preditiva

O TLE pode desbloquear uma produtividade oculta dos ativos legados. Ao converter dados estáticos de registradores Modbus em um fluxo contínuo MQTT, muitas empresas alcançam, pela primeira vez, a visibilidade em tempo real do chão de fábrica.  

O principal benefício estratégico é a possibilidade de migrar da manutenção corretiva (baseada em falhas) ou preventiva (baseada em intervalos de tempo) para a manutenção preditiva (baseada em condição).

Por exemplo, o monitoramento contínuo de um valor de vibração via sensor Modbus (coletado pelo TLE e publicado via MQTT) permite que algoritmos na nuvem detectem anomalias no estágio inicial, acionando uma intervenção antes que a falha em si ocorra. Esta antecipação de problemas resulta em otimização de processos e redução de custos, minimizando desperdícios em todas as etapas da operação.

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